byGicel

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A HISTÓRIA DE UMA MÃE

A Mãe estava sentada ao lado do berço dfilhinho, muito triste e apreensiva, mão no rosto, temerosa de que ele morresse. A criaa, pálida, parecia dormir e respirava fracamente.
Ouviu baterem à porta e viu entrar por ela, sem que lha abrissem, um pobre velhinho, andrajoso, envolto em um cobertor preto. Era pleno inverno e o velho tremia de frio. A geada era forte.  A Mãe ofereceu-lhe uma caneca de café econvidou a se sentar ao seu lado, na lareira, para se aquecer. A criaa dormia e o velho postou-se ao lado dela e ficou balaando o seu berço, fitando profundamente o menino doente que agora respirava com dificuldade.
 - Não acha que ele vai sarar e que ficarei com ele? – perguntou-lhe a mãe.
–  Não crê que Deus Nosso Senhor não o irá tirar de mim? - complementou. 
O velho, que era a própria Morte, balaou a cabeça de uma maneira estranha que tanto podia significar “sim" como "não".
A mãe baixou os olhos chorando e, como o pregava os olhos havia três dias, sentou-se a um canto e cochilou. Depois de um breve instante acordou sobressaltada, tremendo de frio, e percebeu que o velho havia desaparecido com a criaa. E saiu correndo de casa, gritando por seu filho. Lá fora, na escuridão, uma mulher de longas asas  estava sentada no meio da lama.
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A Morte esteve no seu quart disse ela. Vi-a sair apressada, levando seu filho. Ela corre mais rápido que a luz e nunca traz de volta o que leva.
– Mostre-me apenas o caminho que ela tomou e irei em seu encao, disse a mãe, aflita.
– Conheço o caminho, mas se quer que o ensine, terá de cantar para mim todas as canções de ninar que cantava para o seu filho. Gosto de ouvi-las. Sou a Noite.
– Cantarei todas – disse a Mãe. Mas não me detenha, pois preciso alcaar a Morte e recuperar o meu filho.
A Noite permaneceu em silêncio. A Mãe, então, começou a cantar todas as canções de ninar que conhecia. Eram muitas as canções. Terminou, e finalmente a Noite mostrou-lhe o caminho dentro do escuro pinheiral.Vollbild anzeigen E a Mãe embrenhou-se nele. 
Mas, no mais profundo do pinheiral o caminho bifurcava-se e ela, não sabendo para que lado seguir, perguntou a um arbusto espinhoso, sem folhas nem flores, com os galhos revestidos de gelo:
Arbusto, não viu a Morte passar por aqui, levando meu filho?
– Vi – respondeu o arbusto – mas só o direi se me aquecer junto ao seu coração. Estou morrendo de frio. Eu sou os espinhos da vida. Lá na Eternidade, para onde você vai,  reside a Morte.
A mãe apertou o arbusto contra o peito, e os espinhos penetraram em sua carne. O arbusto reviveu e brotou, e cobriu-se de folhas verdes e de flores, tal era o calor que brotava daquele coração de Mãe. Seguindo o caminho indicado por ele, a Mãe chegou a um grande lago onde o caminho acabava.
 Para atravessá-lo, tinha que sorver toda a sua água. A desesperada Mãe abaixou-se e começou a beber. Era impossível, mas esperava que, por milagre, pudesse fazê-lo.
– Nunca conseguirá beber-me – disse-lhe o grande lago. - É melhor fazermos um trato. Gosto de colecionar pérolas e seus olhos são as pérolas mais claras e lindas que já vi. Se me der seus olhos, poderei carregá-la a o outro lado, para a Eternidade, para a grande estufa onde mora a Morte. Lá, flores e árvores representam vidas humanas. Sem os olhos humanos e apenas com o coração você conseguirá ver na Eternidade.
– Tudo farei para chegar a onde está o meu filho, disse a Mãe. Pode ficar com meus olhos.
No mesmo instante seus olhos caíram no fundo do lago e se transformaram em pérolas, e o lago levou- no Barco de Caronte, rumo à Eternidade, a a margem oposta da vida.
E lá foram noite adentro para o outro lado da vida, para a Eternidade. Do outro lado a Mãe percebeu que havia uma caverna com porta estranha de seis metros de largura, seis de altura. O cheiro era horrível. E o calor insuportável. 
o se podia dizer ao certo se era uma montanha com lavas e cavernas ou se era uma parede de ferro. Lá dentro era quente e vermelho mais que um vulcão. Mas a pobre Mãe, comnada via, perguntou a uma coisa parecida com uma velha bruxa que cuidava da grande estufa da Morte:
Onde acharei a Morte que levou o meu filho?
– Ela ainda o chegou – respondeu a velha. - Como conseguiu vir a aqui? Quem a ajudou?
– Deus Nosso Senhor, que é todo misericordioso, me ajudou – disse a Mãe. Onde poderei encontrar meu filhinho?
– Não o conheço e você também não enxerga. Respondeu a velha. Muitas flores e árvores murcharam esta noite. A Morte não tarda a vir para transplantá-las. Deve saber que cada pessoa tem sua árvore da vida ou sua flor, conforme sua índole. Elas se parecem com as plantas comuns, mas têm um coração que pulsa. Também o coração das criaas bate! Guie-se pelas batidas, e talvez reconheça o coração de seu filho. Mas, o que me daria para eu lhe explicar o que ainda terá de fazer?
– Nada tenho para dar, mas por você irei a o fim do mundo.
– Nada tenho para fazer lá – respondeu a velha brux mas pode dar-me seus longos cabelos pretos que lhe direi. Como sabe, são muito belos. Em troca, receberá meus cabelos brancos. Sempre é alguma coisa.
A Mãe fez o que a velha pediu e logo entrou com ela na grande estufa da Morte, onde flores e árvores cresciam em estranha promiscuidade. Cada árvore e cada flor tinha um nome, cada uma delas era uma vida humana espalhada pelo vasto mundo. A Mãe, angustiada, curvou-se sobre todas as plantas. Ouviu bater dentro delas corações humanos e, dentre milhões, reconheceu o de seu filho.
Aqui está! – gritou, e estendeu a o para um pequeno cravo vermelho, que pendia triste e murcho.
– Não toque na flor – disse a velha. – Fique aqui e, quando a Morte vier, não a deixe arrancar essa flor. Ameace-a de arrancar outras flores e ela ficará com medo, pois é responsável por elas perante Deus: nenhuma pode ser arrancada sem a permissão divina.
De repente, uma gélida rajada de vento e um forte cheiro de enxofre atravessou o espaço, e a Mãe sentiu que a Morte acabara de chegar.
– Como encontrou o caminho para vir a aqui? – perguntou a Morte. – Como pôde chegar mais depressa do que eu?
– Sou a Mãe – disse ela.
A Morte estendeu a longa o para a flor cravo vermelho e a Mãe cobriu-a com as mãos. Mas a Morte soprou-as com um vento o gélido que ficaram paralisadas, e elas tombaram sem foas.
– É inútil... Nada pode fazer contra mim – disse a Morte. – Sou o jardineiro. Tomo suas flores e suas árvores e as transplanto para o grande Jardim do Paraíso, na terra desconhecida. Não ouso, porém, dizer-lhe como crescem ali e o que se passa lá.
– Devolva-me meu filho! – pediu a Mãe.
Chorou e implorou e, de repente, agarrou duas flores, uma em cada o.
– Vou arrancar todas essas flores! – gritou para a Morte. – Vou arrancá-las, pois estou desesperada.
– Não as toque! – disse a Morte Afirma que é desgraçada, mas quer tornar outras mães lá no mundo o desgraçadas quanto você...
Outras Mães? – gemeu a pobre mulher. E logo soltou as duas flores.
– Eis aqui seus olhos – disse a Morte, devolvendo-lhe a visão. Pesquei-os no lago, onde brilhavam com grande intensidade. Eu nem sabia que eram seus. Tome-os de novo. Estão mais claros do que antes. Agora olhe no interior daquele poço fundo disse a Morte, apontando para um lado. Vou dizer-lhe o nome das duas flores que quis arrancar e verá o futuro delas, toda a sua vida humana. Verá o que estava prestes a arruinar.
A mulher olhou o fundo do poço. Era uma ventura ver como uma das vidas se tornava uma bênção para o mundo, ver quanta felicidade e alegria desdobrava-se ao seu redor. E ela viu a outra vida, repleta de penas e atribulações, de terror e de miséria.
– Uma e outra o resultado do Criador, da vontade de Deus – disse a Morte. – Direi, apenas, que uma das duas flores era a do seu filho. Viu o destino e o futuro do seu filho ?
A Mãe soltou um grito de susto.
–  Qual delas era a do meu filho? Diga-me! Liberte o inocente. Livre o meu filho de toda a miséria! Leve-o, será melhor. Leve-o ao reino de Deus! Esqueça minhas lágrimas, minhas súplicas, tudo quanto eu disse ou fiz!
– Não a entendo retrucou a Morte. – Quer seu filho de volta, ou quer que o leve para o lugar que você não conhece?
A Mãe torceu as mãos e caiu de joelhos.
– Não me oa! – suplicou a Deus. – Se o que peço é contra Vontade Divina, que é sábia, não me oa. Não me oa!
E baixou a cabeça.
Então a Morte afastou-se, levando o seu filho para a terra desconhecida. Para a eternidade.

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