Conto de
Iemanjá
Era o fim de uma tarde de verão. O céu estava claro e o Sol enviava seus
últimos raios, banhando as águas límpidas e mornas; na areia, agora coberta de
sombras, encontrava-se o repouso convidativo; no ar sentia-se o aroma da
natureza. Na praia semideserta, um homem vestido de branco, descalço,
caminhava a passos lentos, porém firmes. Notava-se a seriedade que o envolvia, o
olhar fixo nas águas do mar, como se algo estivesse buscando. De repente
parou e retirou do pescoço uma guia, na qual as cores azul e branca se
alternavam; fazendo uma ligeira reverência, caminhou para o mar, com a água lhe
chegando até a cintura. Olhando para o céu, já agora não tão claro quanto
antes, permanecia imóvel, dando a perceber que seus pensamentos estavam voltados
para o astral; curvou-se lentamente e deixou que a guia fosse envolvida pela
espuma branca. Nesse, momento sentiu um tremor, todo seu corpo vibrou, como
se um raio o tivesse atingido. As águas tornaram-se revoltas, cânticos dos
mais suaves começaram a ser entoados, odores agradabilíssimos inundaram o
ambiente; e eis que surge sobre as ondas uma figura onipotente: Iemanjá,
Rainha do Mar ! A emoção tomou conta do filho; suas preces haviam sido
atendidas e, por mais que quisesse dizer alguma coisa, não consegui falar.
Apenas, com muita dificuldade, entre os lábios trêmulos, murmuro: “Minha
mãe!” Momentos depois, quando voltou a si, encontrava-se deitado na areia,
com a guia em torno do pescoço. Levantando-se, pôs-se a caminhar e, no
silêncio daquela praia , tinha um só pensamento: ´´Eu vi a Rainha do Mar! Eu
vi Mamãe Iemanjá!".
Babalorixá Paulo
Newton de Almeida
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Sereias, as donzelas do
mar
Os antigos marinheiros que regressavam
de terras e mares distantes freqüentemente contavam histórias sobre Sereias e
mulheres do mar. As Sereias aparecem nas lendas mais velhas de algumas das mais
antigas civilizações do mundo, tendo origem em adoração de deuses de muitas
mitologias. Os Babilônicos, os Filisteus e os Sírios adoravam deuses com caldas
de peixe. Sereias também aparecem em moedas fenícias e coríntias. Possêidon e
Netuno, na mitologia greco-romana, também eram descritos como sendo metade
homem, metade peixe, o mesmo vale para Tritão. Lendas ao redor de Alexandre, o
Grande descrevem como ele visitou o fundo do oceano num globo de vidro e teve
muitas aventuras ao lado de belas Sereias. Plínio conta que um oficial de César
Augusto viu numerosas Sereias "arremessadas à costa e mortas" numa das praias da
Gália. A visão das Sereias como seres divinos mudou com a chegada do
Cristianismo. O ícone da Sereia segurando seu pente e espelho foram
primeiramente retratadas na Idade Média, vindo representar para a Igreja a
vaidade, o desejo e beleza feminina, causadores da destruição do homem e da alma
Cristã. De um status quase divino, as Sereias se tornaram um valor estético, o
foco para misogenia que, ao invés de causar medo, tornou-a ainda mais
fascinante. Na tradição folclórica, histórias de Sereias são freqüentemente
trágicas. As solitárias Sereias ocasionalmente assumem a forma humana durante
uma noite para participarem de festejos celebrado em alguma aldeia. Algumas
vezes, um homem tirava-lhes a capa ou cinto mágicos, impedindo-as de retornar
aos mares, acarretando invariavelmente em desastre. Casamentos entre seres
humanos e Sereias raramente acabavam bem, embora muitos povos do litoral,
principalmente no Nordeste da Escócia e na Cornualhia, tenham afirmado que entre
seus antepassados se encontravam Sereias. Na Idade Média algumas distintas
famílias francesas chegaram a falsificar suas árvores genealógicas para poderem
afirmar serem descendentes da Sereia Melusina, mulher de Raymond, um parente do
Conde de Poitiers. A história de amor de Melusina também teve um final
trágico. Segundo a lenda, uma das condições do casamento era a de que ele jamais
poderia vê-la aos sábados, sob qualquer circunstância. Melusina, continua a
lenda, com suas próprias mãos construiu um majestoso castelo e o nomeou Lusinia.
Eles tiveram vários filhos, embora cada um deles tenha apresentado alguma forma
de deformidade. Um dos filhos mais jovens, por exemplo, possuía presas de javali
ao invés de dentes, e ficou conhecido como Geoffrey "Le Grand Dente", conhecido
também por seu temperamento violento. Raymond e Melusina viveram felizes por
muitos anos. Um sábado, porém, induzido pela maledicência de seu pai e irmãos,
Raymond espreitou sua mulher durante o banho e teve uma inacreditável visão: da
cintura para cima Melusina ainda era a bela mulher de sempre, mas da cintura
para baixo ela estava transformada com uma calda de peixe (em algumas versões
era uma calda de serpente). Mesmo chocado pela visão, Raymond não mencionou nada
a respeito. Certo dia, Melusina e Raymond foram informados que dois de seus
filhos, Geoffrey e Fromont haviam lutado e que Fromont buscou refúgio em um
monastério próximo. No entanto, Geoffrey, num acesso e raiva, colocou fogo no
monastério, matando não só seu irmão como centenas de monges que lá se
encontravam. Raymond, irado pela notícia, culpou Melusina pelo temperamento
incontrolável de Geoffrey. Durante a discussão ele demonstrou saber a verdadeira
natureza de Melusina, acusando-a de ter contaminado a nobre raça humana.
Imediatamente após as palavras de raiva, Raymond implorou por perdão, mas já era
tarde demais. Melusina o lembrou que ele havia quebrado seu voto. Melusina
partiu, transformada, e Raymond nunca mais a viu. De acordo com as lendas
Francesas, Melusina pode ser vista nos arredores de Lusinia e outros castelos
onde nobres e reis vivem, chorando e gritando sempre que algo trágico está para
acontecer para família. Ela se tornara um arauto da morte. Contos de fadas
populares como "Ondina", escrito por Friedrich de la Motte Fouqué, e "A Pequena
Sereia", de Hans Christian Andersen, possuem muitas características da lenda de
Melusina e podem ser vistas como variações do mito. Com o tempo a literatura
começa a usar a Sereia como uma descrição da mulher, ao invés da identificação a
criatura em si. A Sereia havia se tornado uma metáfora. Embora certamente o
mito da Sereia remonte de deuses de civilizações primitivas, não se pode negar a
influência que certos animais marinhos, principalmente aqueles com aparência
análogas ao homem, devam ter tido para formação do mito. Independente de sua
origem, o mito da Sereia não desaparece facilmente. Ainda em 1961 o Departamento
de Turismo da ilha de Man, na Grã-Bretanha, ofereceu um prêmio para quem
trouxesse do mar uma Sereia viva!
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