byGicel

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Dia do Fim do Mundo
Imagem se alguém perguntasse para você, o que estaria fazendo no dia 11 de agosto de 1999 as 10:30 horas ?
Era época de participar da tradicional 3.a Etapa do Campeonato Paulista de Vela de Oceano 1999.
Felipo, lancheiro desde os tempos da África do Sul onde enfrentava o mar com 4 a 5 metros de onda, montado em cima de uma lancha skiboat (para puxar esquis, portanto de borda baixa, e mais fácil de entrar água em mar pesado) para pescar perto de Cape Town.
Nos seus 65 anos pretende reformar um veleiro de madeira de 36 pés e viajar junto com a esposa para Cape Town, sendo esta a primeira parada ou quem sabe ir para a Itália visitar parentes.
De qualquer forma está treinado e a menos que o mundo acabe, tentará realizar seu sonho.
Conversamos sobre a data de levar o veleiro e casualmente a meteorologia anunciava que no 11 de agosto daquele ano era o último dia para pegarmos o tempo gostoso que faz antes de entrar uma frente fria e era uma quarta-feira.
Resolvemos sair naquele dia, porque era bom e se acabasse o mundo, a gente poderia dizer depois, que não poderia ter acabado da forma mais linda (mais ou menos como o desaparecimento do maior de todos velejadores, Éric Tabarli).
Primeiro Sinal
Saímos de Ilhabela as 06:00 horas da manhã e a força contra da correnteza vinda de Sul no canal, já dava indícios que a frente estava para chegar e a movimentação do mar era pesada.
Em dia de Fim do Mundo, qualquer sinal diferente do normal, é facilmente notado e ficamos mais atentos as próximas reações da natureza.
Fora isto, era um dia de agosto fresco com uma preguiçosa bruma que acorda nas montanhas, fazendo a silhuetas mudarem a tonalidade dependendo da distância.
Vento de quatro nós de Sudoeste, fracos e variáveis e dá-lhe motor.
Segundo Sinal
Olhei no relógio e era mais que 10:30 horas, Nostradamus se enganou? O dia ainda não acabou!
Andamos mais umas 10 milhas depois da Ilha do Toque-Toque e começo a enxergar dezenas de pontos pretos na água e bem no nosso caminho. Com tanto lugar, porque justamente a nossa frente?
Eram atobas boiando na água e não queriam sair da frente.
Será que o Fim do Mundo vai ser por ataque de pássaros, que nem nos filmes de Hitchcok?
Para nosso alívio saíram voando da frente a metros da proa do veleiro.
Balanço do Mar
A viagem andava normalmente, não fosse pelo seu Felipo que fazia longos zigue-zagues com o veleiro e até pensei que fosse por causa da falta de prática em mar aberto e não me preocupei,. Porém depois que passarmos o Montão de Trigo e já tinha muitas milhas de treinamento, estranhei os movimentos. Pedi para me passar o leme, pois queria sentir o que estava acontecendo.
Eu também não conseguia manter o rumo.
As ondas estavam com normais 1 a 1,5 metros, porém com um tope de onda grosso e intenso, mais ou menos como alguém muito gordo que nos empurra lento porém pesado e demoramos para voltar.
A coisa "tá" feia lá no Sul!
Terceiro Sinal
De repente vimos no meio do nada e vindo de Santos em nosso caminho, uma nuvem baixa, volumosa sendo trazida por um vento gelado no meio do mar e céu azuis. O que será? Talvez lá se esconda um buraco que está mandando vapor do Fim do Mundo? Porém como estávamos a fim de conhecer como seria atravessamos bem no meio..
Uma delícia, a mesma sensação que entrar numa sauna gelada, com o corpo quente, super refrescante, principalmente depois que saímos do outro lado ensolarado.
Deveria ter uns 500 metros de circunferência e com o topo da nuvem careca que nem padre franciscano, onde se podia ver o azul do céu.
Mais adiante somos ultrapassados por um belo pesqueiro sozinho no mar.
Quarto Sinal
Ao entardecer chegamos no costão da Tartarugas, Guarujá, para assistir a um lindo, exótico e avermelhado pôr de sol e concluímos finalmente que o dia do Fim do Mundo, na verdade foi o dia do Fim de Tarde.



Mensagem
Olhando esta história nos tempos de hoje, pois aconteceu em 1999 cada vez mais tenho a impressão de que atrás dos problemas existem soluções engenhosas.


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